segunda-feira, 2 de maio de 2011

Memorial 35 anos - Profª Rosaly Brito

Entrevista com a professora Rosaly Brito, aluna da segunda turma do curso, quando este ainda nem era regulamentado pelo MEC, fundadora do Centro Acadêmico de Comunicação (CACO) e professora de Teorias da Comunicação aos alunos de Jornalismo e Propaganda e Publicidade da FACOM há 27 anos.

Em sua opinião, quais foram os principais fatos históricos que marcaram a história da Faculdade de Comunicação da UFPA?
Bom, foram muitos ao longo dos anos. Mas eu acho que o que foi mais marcante, mesmo, foi seu ato fundador, em função do contexto em que o curso surgiu, pois isto marcou profundamente a sua história. Criado em plena ditadura militar, em 1976, num boom de surgimento de outros cursos no país, o curso foi fruto de uma, entre muitas, deformações do modelo educacional do regime.
Criado sem a menor infra-estrutura, sem professores qualificados especificamente, sem sequer ser reconhecido pelo Mec. Isto levou a que as primeiras turmas que entraram, a minha foi a terceira, tenham se visto obrigadas a levar adiante um movimento muito intenso de mobilização para mudar este estado de coisas. O saldo positivo disso, além das conquistas que lentamente vieram, foi que deu um sentido muito forte de coletividade para as primeiras turmas. E mesmo quem havia chegado à universidade sem qualquer engajamento político, como era o meu caso, acabou se engajando não só no movimento do curso, mas no movimento estudantil de forma mais abrangente. Naqueles tempos, costumo dizer, não era possível ficar em cima do muro, ou você era contra ou a favor do regime. E foi bonito o processo de educação política que nasceu no curso, o que deu chance para formar uma geração de militantes e acabou impondo derrotas ao governo.

Quais são as principais razões para haja a comemoração dos 35 anos da Faculdade?
Ah, são muitas, a meu ver. Trinta e cinco anos depois o curso mudou completamente de fisionomia, a começar pelo fato que considero mais importante de todos, que é a qualificação do quadro de professores. Um quadro docente qualificado muda tudo, porque não adianta ter infraestrutura adequada se você não tem uma massa crítica capaz de formar alunos não só com uma mentalidade crítica para o mercado, mas também, caso seja esta a escolha deles, com possibilidade de crescer academicamente. Hoje são inúmeros alunos saídos do curso que estão fazendo pós-graduação em várias partes do país e também no exterior. Agora mesmo tenho uma ex-orientanda que está estudando numa das instituições mais prestigiadas da Alemanha. Isso se reflete, também, na implantação do nosso mestrado, ainda agora no segundo semestre. Estaremos, a partir de agora, formando gerações de novos pesquisadores em comunicação na Amazônia, o que faz toda a diferença. Não há nada mais importante a comemorar, em minha opinião, do que isso.

Que tipos de produtos e ações você considera indispensáveis nessas comemorações?
Bom, um deles é o que está sendo feito por vocês sob a coordenação dos professores. Achei muito importante a idéia de o laboratório de Comunicação Institucional ter como cliente a própria Facom. É isso mesmo, não adianta casa de ferreiro com espeto de pau. Temos que mobilizar o melhor de nossa competência comunicacional para falarmos, em primeiro lugar, com o nosso público interno, e também com o nosso público externo. Fazer o nosso próprio marketing, coisa que sempre negligenciamos. Mas é o marketing do bem, no sentido de que não vamos maquiar nada, e sim mostrar para todo mundo que estamos trabalhando muito, e com seriedade, para ajudar a mudar uma equação historicamente tecida pelas classes dominantes da região. Desde sempre os povos da Amazônia foram silenciados, tratados como objetos de políticas movidas por interesses completamente alheios aos seus, mostrados como figuras exóticas e atrasadas, e não como sujeitos, não como protagonistas de uma outra história, que segue uma contra-lógica desta que nos foi imposta. Isso parece algo distante quando falamos dos 35 anos do curso de Comunicação, parece que não tem nada a ver. Mas não é nada disso. Mudar a cara da comunicação na Amazônia é dar voz aos seus povos, e este tem que ser o nosso compromisso maior na formação dos profissionais de comunicação do século XXI. Neste sentido, temos que potencializar todos os nossos recursos humanos, toda a nossa inteligência e criatividade, para fazer com que o curso ganhe cada vez mais respeitabilidade, faça cada vez mais pesquisas e divulgue tudo o que de bom tem feito. Nossos alunos da graduação, por exemplo, estão apresentando trabalhos em congressos pelo país, ganhando prêmios, a Rádio Web acaba de ter um projeto de programa aprovado pelo Minc, o mestrado vai ser implantado agora, vários de nossos ex-alunos estão dando aula em outras instituições dentro e fora do país. Enfim, não é otimismo exagerado, são fatos concretos que temos que potencializar quando vamos falar de nós mesmos tanto para dentro quanto para fora do curso.

(Entrevista realizada por alunos JOR 2007/ LAB CI – junho/2010)

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